Contos Sinistros - As Profundezas da Luz Perdida.
Uma Jornada Maldita nos Pirenéus Franceses
CONTOS SINISTROS


Prólogo: A Maldição de Saint-Léger
Na região isolada dos Pirenéus, a aldeia de Saint-Léger abrigava um segredo: a Caverna dos Ossos Sussurrantes, selada após uma tragédia em 1671. Dizia-se que exploradores desapareciam lá dentro, e os poucos que retornavam enlouqueciam, gritando sobre "vultos que se alimentam de luz". Um manuscrito do século XVII, guardado na igreja local, advertia: "Aqueles que perturbam o sono das Sombras Eternas jamais verão o sol novamente."
A Expedição Maldita
Paris, Outubro de 1853
O Dr. Laurent Beaumont, geólogo arrogante obcecado por fama, reuniu um grupo para mapear as cavernas dos Pirenéus: Isabelle Duval, arqueóloga que buscava provar a existência de rituais pagãos na região. Gaspard Leroux, engenheiro cético e pragmático. Théo Roche, um guia local cuja família jurara proteger o segredo da caverna. Théo relutou em participar, mas Beaumont o subornou com ouro. "Superstições são para aldeões ignorantes", zombou o geólogo. Com lampiões, cordas e mapas desbotados, partiram a cavalo sob um céu cinzento.
A entrada da caverna parecia uma garganta petrificada, com estalactites semelhantes a dentes. O ar era frio e cheirava a podridão úmida. Théo fez o sinal da cruz e amarrou fitas vermelhas em pedras, como sua avó ensinara. Isabelle encontrou símbolos talhados nas paredes: olhos sem pupilas e espirais que "moviam-se" à luz tremeluzente.
Enquanto avançavam, vultos cruzavam as periferias de suas visões. Gaspard riu: "Sombras e cansaço, nada mais." Mas Théo suava frio. Em uma passagem estreita, uma voz sussurrou o nome de Isabelle... em francês arcaico.
Após horas de descida, encontraram um rio subterrâneo de águas negras. Sobre ele, uma ponte de pedra desgastada, adornada com crânios humanos. Beaumont insistiu em cruzá-la. Théo recusou-se: "É aqui que eles começam a seguir a gente."
No meio da ponte, Gaspard tropeçou. Sua lanterna caiu na água, e as chamas se apagaram com um grito estridente, como se algo vivo tivesse sido queimado. Isabelle viu formas se contorcerem nas profundezas. "Não são peixes", sussurrou Théo.
Na margem oposta, uma câmara repleta de ossadas. Entre elas, ferramentas do século XVII: picaretas, uma bíblia corroída e diários com páginas rasgadas. Isabelle leu um trecho ilegível, exceto pela frase final: "ELES NÃO PERDOAM."
De repente, uma ressonância encheu o ar, semelhante a um canto fúnebre. As sombras alongaram-se, ganhando contornos humanos. Théo gritou para fugirem, mas Beaumont ordenou que continuassem. Quando Gaspard se virou, sua face estava desfigurada, com olhos totalmente negros. "Eles me prometeram luz...", sussurrou, antes de ser arrastado para um abismo por mãos esqueléticas.
Os sobreviventes correram, mas as passagens mudavam, como se a própria caverna os perseguisse. As lampiões duraram menos, e a escuridão tornou-se espessa, quase líquida. Isabelle tropeçou em um altar primitivo, onde um cadáver mumificado segurava um crucifixo invertido. Beaumont, enlouquecido, gargalhou: "A ciência explicará tudo isto!"
Antes que pudessem reagir, figuras híbridas — meio humanas, meio sombra — emergiram das paredes. Théo jogou seu lampião nelas, revelando rostos sem carne e bocas cheias de agulhas. "Corram! Elas se alimentam da luz... e da esperança!"
A última coisa que Isabelle viu foi Beaumont sendo engolido por uma massa de trevas pulsantes. Théo a puxou para uma fenda, onde a água do rio os arrastou para a superfície.
Isabelle acordou às margens de um riacho, sozinha. Théo desaparecera. De volta a Saint-Léger, os aldeões evitaram-na, cruzando-se ao vê-la. Seus cabelos haviam embranquecido, e seus olhos, agora sensíveis à luz, só suportavam a escuridão.
Anos depois, em um manicômio perto de Lyon, ela repetia frases em latim arcaico. Quando morreu, os enfermeiros encontraram desenhos em suas paredes: cavernas, sombras e a frase "LUX ERAT EORUM" ("A LUZ ERA DELES.")
A caverna foi dinamitada, mas nas noites sem lua, viajantes juram ouvir risadas vindas das montanhas... e vultos que seguem suas lanternas.